Autores: Gabriel Cícero Araújo Silva1 Eric Almeida2
1 – Especialista em controle de infecção – UFF, Consultor Técnico INOVIDE 2 – Mestre em Saúde Coletiva – UERJ, especialista em controle de infecção – UGF. Responsável Técnico INOVIDE – Empresa Especializada em Saúde;
Correspondente: Gabriel Cícero
Contato: Gabrielcicero@id.uff.br
DOI:10.13140/RG.2.2.27927.14248
Celebrado em 15 de outubro, o Dia Mundial da Lavagem das Mãos, tem como objetivo reforçar a importância desta prática na assistência à saúde e intensificar a participação e adesão dos profissionais com a finalidade de prevenir doenças e salvar vidas (WHO, 2021).
A campanha lançada em 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), cujo título “SALVE VIDAS – Higienize suas mãos”, tem como propósito manter o incentivo à Higiene das Mãos (HM) na atenção à saúde e incentivar as pessoas a apoiarem esta prática em todo o mundo. Em 2023 a campanha dirige-se às organizações da sociedade civil, trabalhadores de saúde e cuidadores, equipes de prevenção de controle de infecção e tomadores de decisão para acelerarem a ação conjunta.
A higiene das mãos quando realizada adequadamente em momento oportuno, sobretudo nos cinco momentos preconizados pela OMS, salva milhões de vidas anualmente. Além disso, a melhoria da adesão à higiene das mãos na assistência à saúde economiza aproximadamente US$ 16,5 em despesas de atenção à saúde para cada dólar (US$) investido, segundo a OMS (2023).
Os cinco momentos preconizado para a higiene das mãos são: antes de tocar o paciente; antes de realizar procedimento limpo/asséptico; após o risco de exposição a fluidos corporais; após tocar o paciente e após tocar superfícies próximas ao paciente.
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) que são consideradas os eventos que mais ocorrem na prestação de cuidados à saúde, muitas vezes causadas por microrganismos multirresistentes podem ser evitadas pela adesão dos profissionais à higiene das mãos durante a jornada de trabalho (ANVISA, 2012).
A adesão a higienização das mãos nos serviços de saúde ainda é desafiador e considerada de baixa adesão, girando a média em torno de 40% (ANVISA, 2012). Em um estudo comparativo entre pré e pós pandemia da covid 19, as taxas de uso de álcool gel (em litros por 1000 pacientes-dia), demonstrou que a preocupação sobre a pandemia, aumentou a utilização do álcool, porém, em unidades nas quais essa preocupação não é mantida, os níveis de adesão podem cair rapidamente.
As mãos dos profissionais de saúde podem ser persistentemente colonizadas por microrganismos patogênicos (como Staphylococcus aureus, bacilos Gram-negativos ou leveduras) que, em áreas críticas como unidades de terapia intensiva (UTIs) e unidades com pacientes imunocomprometidos e pacientes cirúrgicos, podem ter um importante papel adicional como causa de IRAS (ROTTER, 2004).
A contaminação das mãos dos profissionais pode ocorrer durante o contato direto com o paciente ou por meio do contato indireto com produtos e equipamentos no ambiente próximo a este, como bombas de infusão, barras protetoras das camas e estetoscópio, entre outros. Bactérias multirresistentes e mesmo fungos como Candida parapsilosis e Rhodotorula spp. podem fazer parte da microbiota transitória das mãos e assim se disseminar entre pacientes (CDC, 2002; HUANG et al., 1998; SILVA et al., 2003; CHAKRABARTI et al., 2001). Mas O questionamento é: qual o impacto da higienização das mãos no tempo de hospitalização do cliente? A resposta é simples!
Um estudo prospectivo realizado em uma UTI norte-americana acompanhou os profissionais de saúde durante oito meses. Neste período, houve 16 novos casos de pacientes colonizados que tiveram contato com as mãos dos profissionais colonizadas por Enterococcus Resistente a Vancomicina (VRE), as quais não tinham sido devidamente higienizadas antes da assistência. Foi verificado que as cepas das mãos dos profissionais de saúde eram as mesmas encontradas nos pacientes (WANG et al., 2001).
Segundo a OMS (2023) apenas na Europa, cerca de 9 milhões de IRAS ocorrem a cada ano em unidades de cuidados intensivos e de longa duração, isto resulta em 25 milhões de dias adicionais de hospitalização com custo de 13 a 24 bilhões de euros. Sobretudo, a higiene das mãos torna-se um autocuidado contribuindo para a própria segurança e saúde do colaborador que, uma vez prestando assistência a paciente em precaução por isolamento de bactérias multirresistente sem as devidas precauções, pode obtê-las.
Em um estudo realizado por Gonçalves et al. (2021) sobre a higienização das mãos em tempo de pandemia, referindo-se a vivenciada pela covid-19, concluem que a higiene das mãos é uma prática simples, valiosa, econômica e eficaz para redução de inúmeras doenças infecto contagiosas. Porém, devem ser adotadas providências que sustentem o hábito da HM em longo prazo, pois a negligência dessa prática por profissionais de saúde configura-se como comportamento de risco e permite a propagação de doenças e surtos sendo um desafio, a aplicação de medidas que mantenham a aderência dos profissionais e da sociedade a este hábito.
No site da OPAS (https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-higiene-das-maos-2023) foram disponibilizados diversos cartões de mídia social com o tema da campanha de higienização das mãos em 2023 englobando profissionais de saúde, sociedade civil e gestão para serem baixados e utilizados pelas unidades de saúde como forma de propagar a importância desta prática a todos os envolvidos no cuidado ao paciente.
Sites com materiais sobre higienização das mãos:
https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-higiene-das-maos-2023 https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/higiene-das-maos
REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2009. 105p
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Higienização das mãos em serviços de saúde. Brasília, 2007. Disponível em: Acesso em: setembro de 2023.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do Paciente: Relatório sobre Autoavaliação para Higiene das Mãos. Brasília: Anvisa, 2012.
CDC (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION). Guidelines for hand hygiene in healthcare settings: recommendations of the Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee and the HICPAC/SHEA/APIC/IDSA Hand Hygiene Task Force. MMWR Recomm Rep,
CHAKRABARTI, A. et al. Outbreak of Pichia anomala infection in the pediatric service of a tertiary-care center in Northern India. J Clin Microbiol, Washington, DC, v. 39, n. 5, p. 1702-1706, May 2001.
GONÇALVES, Rozemy Magda Vieira et al. Higiene das mãos em tempos de pandemia. Revista Eletrônica Acervo Enfermagem, v. 12, p. e7944-e7944, 2021.
HUANG, Y. C. et al. Yeast carriage on hands of hospital personnel working in intensive care units. J Hosp Infect, London, v. 39, n. 1, p. 47-51, 1998.
PAHO (Pan American Health Organization). Dia Mundial de Higiene das Mãos 2023. Disponível em: https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-higiene-das-maos-2023. Acesso em: setembro de 2023.
ROTTER, M. L. Hand washing and hand disinfection. In: MAYHALL, C. G. (Ed). Hospital epidemiology and infection control. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 1999. p. 1339-1355.
ROTTER, M. L. Special problems in hospital antisepsis. In: RUSSELL, HUGO & AYLIFFE’S principles and practice of disinfection, preservation and sterilization. 4th ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2004. p. 540-542.
SARDENBERG, H. A.; CAVALCANTE, R. DE S.; FORTALEZA, C. M. C. B. MUDANÇAS EM PADRÕES DE CONSUMO DE ÁLCOOL GEL PARA HIGIENE DAS MÃOS ANTES E DURANTE A
PANDEMIA DE COVID‐19. The Brazilian journal of infectious diseases: an official publication of the Brazilian Society of Infectious Diseases, v. 25, n. 101354, p. 101354, 2021.
SILVA, V. et al. Yeast carriage on the hands of Medicine students. Rev Iberoam Micol, [S.l.], v. 20, n. 2, p. 41-45, 2003
WANG, J. T. et al. A hospital-acquired outbreak of methicillin resistant Staphylococcus aureus infection initiated by a surgeon carrier. J Hosp Infect, London, v. 47, n. 2, p. 104-109, Feb. 2001.
WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION). Dia Mundial de lavagem das mãos 2021. Disponível em
<https://www.afro.who.int/pt/regional-director/speeches-messages/dia-mundial-da-lavagem-das-maos- 2021#:~:text=O%20Dia%20Mundial%20da%20Lavagem,doen%C3%A7as%20e%20para%20salvar%20vid as>. Acesso em: setembro de 2023.
WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION). The WHO Guidelines on Hand Hygiene in Health Care (Advanced Draft). Global Patient Safety Challenge 2005-2006: Clean care is safer care. Geneva: WHO Press, 2006a. 205 p. Disponível em: . Acesso em: setembro de 2023.